Juízo é de Reinaldo Moura. “Houve erro da oposição que não enfrentou"
Aos 70 anos, o ex-presidente da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, Reinaldo Moura, que tenta voltar à Assembleia no pleito deste ano, afirma nesta entrevista que há uma mobilização geral da máquina governamental no sentido de colocar o Legislativo contra a opinião pública. Segundo ele, não porque precisa do dinheiro do Proredes para a saúde do estado, mas para fazer obra e se credenciar para a campanha eleitoral. Reinaldo acredita que os deputados de oposição tinham que deixar isso bem claro para a sociedade. “Houve um erro também por parte da oposição que não enfrentou com coragem dizendo que não votava, não assinava. Só votava se falasse onde seria aplicado o dinheiro”, diz. O ex-conselheiro do TCE afirma ainda que a imprensa critica o Poder Legislativo, mas blinda o Executivo e o Judiciário, e que não há independência no rádio sergipano. “Aqui têm vários programas de rádio, mas a guerra é entre dois. Um que defende um grupo político e outro defende outro grupo político. Essa história de que é independente não existe”, assegura. “Você pode ser relativamente independente. Esse tipo de programa começou aqui em Sergipe comigo na década de 70 com o programa Jogo Aberto. E eu dizia que não era independente porque eu já trabalhava numa emissora que pertencia a políticos. Passou-se a trabalhar num microfone de rádio que pertence ao político já não é independente.” A entrevista:
É um desafio tentar voltar à Assembleia Legislativa depois de todos estes anos sem disputar uma eleição?
Realmente é um desafio. Eu passei 14 anos no Tribunal de Contas do Estado de Sergipe e perdi os contatos políticos, aquilo que é chamado de base eleitoral. Retomar essa caminhada é difícil. Mas o resultado tem sido bom. O grupo que eu tinha no passado boa parte assumiu compromissos com outros candidatos e honraram esses compromissos. Mas alguns candidatos deixaram de honrar esses compromissos, e é mais fácil o retorno dessas pessoas. Os que agiram corretamente, honraram com a aliança, ficou mais difícil trazer de volta porque não tem motivo deixar uma aliança de agora e retomar uma aliança comigo.
A política, hoje, está na base da compra do voto?
A cada ano que passa piora cada decisão, cada inovação, cada nova legislação no sentido de tornar a eleição mais séria, mais ideológica, mais em cima de programas partidários. Apesar de todo esse esforço do próprio Congresso Nacional na criação de leis que apertem essas situações não tem surtido efeito. Comício não resolve nada. É comício que torna a eleição doente. O que torna é realmente é essa cultura que o voto tem que ser pago. Há um universo bem pequeno daqueles que ainda votam acreditando que determinado candidato possa produzir alguma coisa para seu estado.
O senhor usou o facebook para glosar um comentário feito sobre o senhor no sentido de disputar uma eleição aos 70 anos num grupo que prega o novo. Houve preconceito na sua ótica, pelo que o senhor postou no face. Como foi este episódio?
Essa pessoa chegou a fazer dois comentários. O primeiro eu não liguei muito porque sei que foi uma coisa de passagem e dirigida. A princípio eu pensei que ele estava a serviço de alguém, mas ele insistiu e houve uma repercussão pequena. A receptividade da minha mensagem foi muito boa. Ainda quero acreditar que ele está a serviço de algum partido, de algum candidato, de alguma coligação. Eu não enxerguei preconceito não. Todos chegam lá, e eu disse a ele que espero que ele chegue como eu cheguei. Eu acho que devo ser candidato porque hoje eu guardo experiência. Eu passei seis mandatos na Assembleia, aprendi o que era legislativo. Ao sair, fui para o Tribunal de Contas e conheci o outro lado, que é a dificuldade que o gestor tem hoje para administrar. Eu tenho uma visão diferente quando eu vejo que prefeito tal fez isso. Eu aprendi dentro do TCE a separar o que fez, sabendo o que estava fazendo, e o que fez inocentemente, porque confiou numa equipe que preparou o material e fez apenas assinar. Então, eu posso chegar à Assembleia e fazer esse tipo de avaliação a respeito de uma administração. Eu sei que para alguns deputados hoje a cobrança da opinião pública em determinados serviços que o Estado tem que prestar demora muito a licitar e eu lá vou explicar a eles porque demora muito. Eu não vou fazer uma cobrança, cobrar por cobrar. Eu vou fazer a cobrança no momento certo porque eu vivi ali dentro e sei a dificuldade de promover uma licitação, de construir determinada obra, de atender no prazo. Eu sei se ele está fazendo aquilo na maldade ou deixando de fazer aquela obra porque tem dificuldades. Experiência acumulada no Legislativo, conhecendo hoje a gestão, com a visão que tenho hoje de Executivo, porque fui presidente da Assembleia duas vezes, presidente do TCE uma vez, administro hoje um patrimônio que milhares de pessoas têm o direito de cobrar, e recuperei a credibilidade desse patrimônio (o Clube Esportivo Sergipe). Eu acho que tudo isso me credencia a um novo mandato com a certeza e convicção que eu posso contribuir para Sergipe.
O senhor é um homem público realizado pela passagem por estes cargos que acabou de citar. O que o move aos 70 anos?
Eu gosto. Com todo respeito aos lugares por onde passei, as profissões que eu tive de rádio, que se tivesse atuando hoje estaria completando 55 anos de rádio, depois fui para Assembleia e em seguida ao TCE. O que mais me motivava era exatamente a Assembleia Legislativa, porque é um exercício diário. O TCE é uma coisa que tem uma sequência normal: seguir a lei. Aquilo nascia de uma auditoria, de uma equipe para chegar à minha mão. Não é uma criança que eu fiz. A assembleia é um exercício diário. O (saudoso) governador Marcelo Déda disse em uma das suas falas que aprendeu mais comigo na Assembleia. Na rua, com um megafone, você pode dizer o que quiser. Ninguém fala nada. Mas na Casa diz o que quer e houve o que não quer. Ele aprendeu e citou essa colocação que eu fiz algumas vezes. São 24 cabeças pensando. Eu até brincava com ele quando eu era líder de governo, ele fazia um pronunciamento bem elaborado com dados e tudo e dizia que queria ouvir o líder do governo. Eu dizia: vossa excelência passa um mês pesquisando, não me pergunta, não me mostra e agora quer que eu lhe responda agora? São 24 pessoas pensando e cada um não sabe o que o outro vai fazer e você é desafiado todo dia a se manifestar ou favor ou contra. Esse desafio que me motiva. Provar que é possível, sim, aos 70 anos. É possível, sim, ter a oportunidade que o ministro Carlos Brito não teve no Supremo Tribunal Federal (STF) e o Legislativo permite isso. É um desafio que eu me proponho. É difícil, mas vamos enfrentar.
Além dos deputados, no Legislativo há a presença constante da imprensa acompanhando tudo e, vez por outra, as galerias lotadas de trabalhadores cobrando soluções. O calor humano do Legislativo também o motiva?
Eu tenho respeito por todos os poderes, mas tenho mais pelo Legislativo. É pela galeria cheia, pelos sindicatos cobrando, pelas classes sociais cobrando posições da Casa e pela própria imprensa. Quando chegavam lá no TCE para fazer entrevista eu dizia que tinha sessão terça, quarta e quinta, mas a imprensa só aparecia quando a agenda era negativa. Raramente um jornalista cobre o TCE. A assembleia tem dia que não tem lugar na galeria da imprensa, já ampliaram e não tem jeito. Cada vez tem mais imprensa lá. Eu defendo muito o Legislativo. Ninguém vai assistir à reunião de pleno no Tribunal de Justiça, a não ser quando há um processo escandaloso que envolva uma pessoa de nome. O dia-a-dia da Assembleia é cheio.
O Poder Legislativo foi duramente criticado por conta do Proinveste, e posteriormente do ProRdes, por alguns setores da imprensa, que tomaram partido nas causas e queriam os empréstimos aprovados mesmo contra a vontade de determinados deputados. A imprensa excede a democracia intrínseca ao Legislativo?
O mais blindado de todos os poderes é o Judiciário. Eu não vou negar que até a própria imprensa tem determinado receio de fazer uma crítica mais dura ao Judiciário, que merece, sim, em alguns momentos ser criticado porque padece de situações iguais. Há certo receio de abordar com mais dureza uma questão que envolva o Tribunal de Justiça. O Governo do Estado tem a blindagem de outra situação: há uma dependência financeira de boa parte de setores da imprensa do Governo do Estado. Então, você sabe que determinada situação deve ser criticada, mas não faz por essa dependência do Executivo. Aqui, quando se fala em jornalista, em radialista, há um corporativismo assombroso, como se na categoria de jornalista não tivesse alguém que tivesse defeito. Tem em todo lugar. O papa está aí agora punindo alguns por pedofilia na igreja. A blindagem do Executivo é a dependência financeira de alguns. Não é da totalidade. No Legislativo não há. A imprensa não tem matéria, vai buscar na Assembleia porque trata de todas as questões do Estado e há mais liberdade para criticar. O próprio Tribunal de Contas, eu só passei a responder a imprensa depois que assumi a presidência porque lá há um certo receio de responder a imprensa. Eu respondia todas as críticas que eram feitas enquanto eu fui presidente da instituição. Nesse caminho, o Legislativo é o mais aberto. Nos dois projetos do governo (Proinveste e Proredes), a imprensa sabe que do jeito que foi não deveria ser aprovado. Se eu tivesse lá teria dito a mesma coisa. Há uma mobilização geral da máquina governamental no sentido de colocar o Legislativo contra a opinião pública porque precisa do dinheiro para a saúde do estado? É preciso dizer que quer o dinheiro para fazer obra e se credenciar para uma campanha eleitoral. O que custava dizer onde ia gastar o dinheiro? Houve um erro também por parte da oposição que não enfrentou com coragem dizendo que não votava, não assinava. Só votava se falasse onde seria aplicado o dinheiro. Ficou aquela situação, Déda com a saúde fragilizada naquele momento e a Assembleia assinou. Não me venham dizer que vão construir Hospital do Câncer que não vão. Pode até levantar quatro paredes, mas dotar o hospital com condição de atendimento não vai. Eu me dei bem lá dentro (Assembeia) porque alguém de determinada categoria dizia que queria apoio para o projeto, mas eu dizia que ia votar do jeito que veio e ninguém me procurava mais. Eu chegava à Assembleia absolutamente tranquilo. Da mesma forma que eu dizia à categoria que ia votar com eles e não adiantava o governo me pedir para fazer o contrário. Nem João Alves, nem Albano, nem Valadares. Eu não obedecia a partir do momento que eu estudei e assumi uma posição.
Como radialista , como o senhor avalia a parcialidade de certos programas de rádio jornalismo no terreno da política partidária?
Nesse caso específico, não é uma questão de democracia. É que um está a serviço de um grupo e outro está a serviço de outro grupo. A questão da dependência que eu falei lá atrás é muito clara. Aqui têm vários programas de rádio, mas a guerra é entre dois. Um que defende um grupo político e outro defende outro grupo político. Em alguns momentos, existia o debate em defesa da própria população. A maior parte do tempo desses programas era em defesa de grupos políticos. Existem outros programas aí e todos eles têm vínculo com algum grupo. Essa história de que é independente não existe. Você pode ser relativamente independente. Esse tipo de programa começou aqui em Sergipe comigo na década de 70 com o programa Jogo Aberto. E eu dizia que não era independente porque eu já trabalhava numa emissora que pertencia a políticos. Passou-se a trabalhar num microfone de rádio que pertence ao político já não é independente. É relativamente independente. Jornal é a mesma coisa, televisão, tudo a mesma coisa. Têm uns proprietários de rádio, jornal ou televisão, que deixam a coisa um pouco mais aberta, um pouco mais democrática, mas na hora que aperta a porca do parafuso… Tem uns que são menos independentes, mas existem dois rigorosamente, aliás, dois não, porque na saída do titular as coisas diminuíram sensivelmente. Mas têm outros em outras emissoras que trabalham com mais calma, mais respeito ao ouvinte, e procuram na medida do possível ser independente, mas nenhum é.
"Governo quer dinheiro do Proredes para se credenciar para a campanha"
21/07/2014 -
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