No mês de junho, a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) divulgou um relatório que aponta o Brasil como o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. No total, foram mais de 2 milhões de procedimentos cirúrgicos realizados em 2024. O país também aparece em segundo lugar entre os procedimentos não cirúrgicos, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Segundo o documento, a cirurgia mais realizada no Brasil é a lipoaspiração, representando 12,3% (289.766) do total de procedimentos. Em seguida, aparece o aumento das mamas, com 9,9% (232.593).

Em entrevista ao Sergipe em Foco, a cirurgiã plástica Carine Barreto Gonzaga, com especialização em mamas e contorno corporal, fala sobre sua experiência na área, abordando as principais dúvidas e as questões que devem ser observadas por quem busca um procedimento.

Graduada em Medicina pelo Centro Universitário Serra dos Órgãos (RJ), ela se formou em 2013 e fez duas residências na capital carioca. Especialista titulada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e AMB, exerce sua profissão há cinco anos, em Aracaju.

Sergipe em Foco: Vivemos um momento em que a pressão estética está muito presente no dia a dia. Quando uma paciente chega ao seu consultório, a senhora costuma investigar se o desejo pela cirurgia parte, de fato, de uma vontade pessoal?

Carine Barreto: Sempre que uma paciente vai ao meu consultório, essa é uma preocupação minha. Essa questão sempre é colocada em pauta: qual o motivo pelo qual ela deseja fazer aquela modificação no corpo? Por que ela está me procurando? E se eu posso, de fato, ajudá-la. O motivo precisa ser genuíno para que a transformação seja verdadeira. Quando fazemos uma transformação estética pelos motivos errados, a cirurgia acaba se tornando uma frustração — para a paciente, para a equipe médica e para todos os envolvidos. Por isso, é fundamental que haja um motivo genuíno.

SF: Quais orientações a senhora costuma dar às pacientes antes da realização de um procedimento cirúrgico?

CB: Todas as nossas pacientes que são submetidas à cirurgia plástica passam por um preparo pré-operatório. Isso hoje é mandatório. Já existe uma comprovação científica muito robusta sobre a influência do corpo inflamado no pós-operatório — tanto na recuperação quanto na incidência de complicações. Por isso, preparamos a paciente para que ela entre na cirurgia desinflamada, o que proporciona uma recuperação mais rápida, uma cicatrização melhor e um pós-operatório mais tranquilo, com pouca dor e pouco inchaço. Damos diversas orientações, como a reposição de vitaminas, hidratação, entre outras medidas importantes no pré-operatório, que fazem toda a diferença no pós.

SF: Sua especialização é em cirurgias de mama e contorno corporal. Dentro dessa área, quais são os procedimentos mais solicitados? E como é definido qual deles é o mais indicado para cada paciente?

CB: Dentro das cirurgias das mamas, talvez as mais realizadas hoje sejam as inclusões de próteses mamárias e as mastopexias com prótese — que são cirurgias para levantar as mamas com a inclusão de implantes mamários. A definição do procedimento é feita por meio da avaliação médica. Geralmente, realizamos uma primeira consulta bastante extensa, porque gosto de conhecer bem a paciente, entender seu estilo de vida, os motivos pelos quais deseja realizar a cirurgia, seus anseios e tirar dúvidas já nesse primeiro momento. Também peço referências visuais, modelos de resultados que ela tenha achado interessantes. A partir disso, traçamos um plano cirúrgico detalhado e personalizado.

SF: Quais são as dúvidas mais comuns entre as pacientes que procuram o seu consultório?

CB: As dúvidas mais comuns variam conforme o tipo de cirurgia, mas geralmente estão relacionadas ao tempo de afastamento do trabalho — quanto tempo cada procedimento exigirá de recuperação. As pacientes também costumam se preocupar com o tamanho das cicatrizes, com o volume da prótese e com o resultado final das mamas. Outra dúvida frequente diz respeito ao ato anestésico. Para isso, contamos com uma equipe de anestesistas extremamente experientes e humanos, que acolhem a paciente durante a consulta pré-anestésica — realizada antes da cirurgia —, o que costuma trazer muita tranquilidade.

SF: O pós-operatório é um assunto que pode gerar incertezas nos pacientes. O que geralmente muda nessa fase e quanto tempo, em média, dura o processo de recuperação de acordo com cada procedimento?

CB: Atuamos com bastante seriedade e cuidado, desde a primeira consulta até o pós-operatório, justamente para garantir que os nossos pacientes não tenham nenhuma incerteza durante o processo. Somos uma equipe que acolhe, que oferece assistência em todos os momentos da realização do sonho da paciente. Ela é amparada desde o pré-operatório até o transoperatório. Esclarecemos todas as dúvidas possíveis antes da cirurgia e mantemos contato com os acompanhantes durante o procedimento para diminuir a ansiedade, que é comum. Temos também uma equipe de fisioterapia que faz atendimentos domiciliares e me mantém atualizada com fotos e informações. Esse acompanhamento é feito diariamente no pós-operatório mais imediato, e eu também continuo acompanhando a paciente no consultório. Todas são vistas por mim, têm meu contato direto, e o pós costuma ser muito tranquilo. As pacientes reclamam pouco de dor, e nossa taxa de complicação é muito baixa. Acredito que isso se deve ao fato de estarmos sempre atentas ao que acontece com a paciente, inclusive em casa.

SF: Quando o assunto é prótese, o que é fundamental que o paciente saiba antes de tomar uma decisão?

CB: Acho fundamental, quando falamos de prótese mamária, que a paciente tenha certeza de que realmente deseja esse tipo de implante. Hoje, talvez a prótese seja um dos dispositivos implantáveis mais estudados do mundo. Sua segurança e eficácia já são amplamente comprovadas na literatura científica. As próteses atuais são altamente biocompatíveis, desenvolvidas para que o organismo as reconheça como parte do corpo, o que reduz muito os riscos de rejeição, infecção e outras complicações no pós-operatório. Ainda assim, trata-se de um dispositivo implantável, e a paciente precisa ter plena convicção de que deseja conviver com algo diferente em seu corpo pelo resto da vida. Atualmente, as próteses não têm mais prazo de validade — não é mais necessário trocá-las a cada 10 anos —, o que significa que a cirurgia terá um efeito duradouro. A paciente precisa estar segura de que é isso mesmo que deseja. Hoje, inclusive, é possível alcançar resultados bastante naturais, mesmo com o uso da prótese — o que antes era uma dúvida comum entre aquelas que temiam um aspecto artificial. Graças ao avanço das tecnologias e das técnicas cirúrgicas, conseguimos resultados lindos, naturais e duradouros.

SF: Além da sua especialidade, a senhora também faz outros procedimentos? Quais seriam eles?

CB: Sim, realizamos muitas cirurgias de contorno corporal: lipoaspiração, lipo de média definição, abdominoplastia, cirurgia das pálpebras, das orelhas, retirada de tumores, reconstruções mamárias — que é uma das minhas paixões — e também tratamento de lipedema, uma especialidade minha. O lipedema é uma doença que está em evidência e, por ser multifatorial, tratamos de forma integrada em nosso centro especializado, oferecendo todo o suporte necessário para trazer a condição à fase subclínica. Além disso, realizamos procedimentos estéticos faciais, como botox, preenchimento, bioestimulador de colágeno e outros tratamentos no consultório, incluindo os que também contribuem para melhorar o aspecto pós-cirúrgico.

SF: Para quem tem o desejo de fazer uma cirurgia plástica, mas ainda sente receio, qual seria o seu principal conselho?

CB: Para quem tem medo ou receio de realizar uma cirurgia plástica, a primeira orientação é: escolha o profissional e a equipe certos. Não escolha com base no Instagram. Quando você entrega sua vida a alguém, precisa ser muito assertivo nessa decisão. Essa será, muitas vezes, a melhor chance de a cirurgia dar certo. Por isso, escolha uma equipe que trate o seu sonho e as suas queixas com seriedade, que esteja comprometida em realizar aquilo que você realmente deseja. E, em segundo lugar, saiba que o medo é completamente normal — ele é uma forma de proteção. Mas o receio tende a diminuir conforme você pesquisa sobre a cirurgia, conhece as técnicas disponíveis, conversa com outros pacientes que já passaram pelo procedimento com aquele profissional. Somente assim é possível fazer uma escolha mais consciente, tranquila e segura.

Da Redação Sergipe em Foco