Acidentes e quedas são duas principais causas das urgências no HRL, aponta pesquisa

18/09/2014 às

Os acidentes de transporte, as quedas, agressões e os maus-tratos são algumas das causas mais comuns dos atendimentos de urgência e emergência registrados no Hospital Regional Monsenhor Joao Batista de Carvalho Daltro (HRL), localizado em Lagarto, na região Centro-Sul de Sergipe. É o que aponta o Inquérito de Violências e Acidentes em Serviço de Referência Hospitalar de Sergipe.

A pesquisa foi desenvolvida no ano passado pela professora Shirley Verônica Melo Almeida Lima como temática da sua Dissertação de Mestrado em Ciências da Saúde no Campus/São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe, sob a orientação da professora Edilene Curvelo Hora Mota e contou com a colaboração, na fase da coleta de dados, de alunos do Curso de Enfermagem do Campus da Saúde de Lagarto, também da UFS. Foram entrevistados 1.065 pacientes atendidos no HRL, no período de 15 de agosto a 13 de setembro de 2013.

De acordo com o levantamento, 34,1% dos pacientes entrevistados se envolveram em acidentes de transporte ou trânsito, 29,4% sofreram algum tipo de queda e outros 5,4% foram vítimas de agressões ou maus-tratos. A pesquisa aponta ainda que, no caso dos acidentes, 49,5% dos casos se concentraram na zona urbana, com predomínio das ocorrências em via pública (42,9%) e residência (33,2%). Pelo menos 16,9% das vítimas declararam alguma relação dos episódios com o trabalho ou o trajeto para este.

Segundo Shirley Verônica, a pesquisa buscou caracterizar o perfil das vítimas de violência e acidentes atendidas no HRL. "Nesse inquérito entrevistamos vítimas de agressão física e sexual, acidentes de moto, carro, bicicleta, atropelamentos de pedestres, pessoas que sofreram quedas de mesmo nível, de árvore, além de vítimas de queimaduras, ferimentos por armas de fogo, entre outros fatores", explicou.

Resolutividade

Duas conclusões da pesquisa apontam para a resolutividade da unidade gerenciada pela Fundação Hospitalar de Saúde (FHS) e o papel que o Hospital Regional de Lagarto possui hoje para a rede estadual de urgência e emergência. De acordo com o levantamento, dos atendimentos feitos pelo HRL, durante o estudo, 67,5% dos casos ocorreram no Centro- Sul do Estado e 32,5% em 29 municípios de outras regiões. "Das sete microrregiões de saúde divididas administrativamente pela Reforma Sanitária e Geral do Sistema Único de Saúde (SUS) em Sergipe, a partir de 2007, cinco delas tiveram vítimas acometidas por causas externas e necessitaram de atendimento no Hospital de Lagarto", justifica Shirley Verônica.

De acordo ainda com o levantamento, atualmente "o Hospital Regional de Lagarto encontra-se como uma das referências em atendimento ortopédico no Estado. Nessa conjuntura - acrescenta - muitos pacientes se deslocaram do alto sertão, agreste central e sul sergipano para terem acesso a esse serviço". Somente entre 2013 e julho deste ano, o HRL já realizou, apenas em ortopedia, em torno de 1.500 cirurgias.
Outro dado apontado pela pesquisa - que aplicou o formulário de coleta de dados do Inquérito de Vigilância de Violências e Acidentes (VIVA), do Ministério da Saúde - é que 93,4% das vítimas de acidentes e violências atendidas no HRL durante a realização do levantamento receberam alta hospitalar, após o atendimento inicial de urgência e emergência, durante as 24 primeiras horas. "Esta pesquisa veio confirmar o que os números dos nossos relatórios gerenciais e de produção vinham apontando, ou seja, ratifica a resolutividade do Hospital Regional de Lagarto", destaca o enfermeiro Oldegar Alves Junior, superintendente da unidade.

Motos e álcool

A pesquisa também sinaliza para com outros dados já apontados pelos relatórios gerenciais e de produção do HRL desde a sua inauguração, há pouco mais de quatro anos: o grande número de vítimas que se envolvem em acidentes, em especial com motocicletas, a inobservância do uso obrigatório de equipamentos de proteção (como capacetes e cintos de segurança) e a ingestão de bebidas alcoólicas associada ao ato de dirigir. O estudo apontou, por exemplo, que 53,3% das vítimas de acidentes motociclísticos não utilizavam capacetes e 85,4%, nos automobilísticos, não usavam cinto de segurança.

Pelo levantamento, nos acidentes de transporte, a motocicleta foi o principal meio utilizado pela maioria das vítimas, totalizando 72,2%. Entre os atendimentos registrados segundo o tipo de vítima, os condutores representaram 73,3% dos casos, enquanto os passageiros somaram 19,6%. De acordo com os relatórios de produção do HRL, entre janeiro e agosto deste ano, o Hospital de Lagarto já atendeu 1.603 pacientes vítimas de acidentes motociclísticos.

Caso típico foi o que ocorreu com Lucivaldo Cecílio dos Santos, de 32 anos, que trabalha numa empresa de gesso em Tobias Barreto, município distante cerca de 53 km de Lagarto, também na região Centro-Sul. Ele colidiu sua moto com uma outra, no dia 28 de maio deste ano, quando trafegava pela rodovia SE-170, que liga os dois municípios. "Eu estava de capacete, sou habilitado, mas o condutor da outra moto estava aprendendo a pilotar e saiu repentinamente de uma roça, com um carona. Nenhum dos dois usava capacete", disse o trabalhador, enquanto aguardava para sua quinta revisão médica, desde que se submeteu a uma cirurgia de emergência no Hospital Regional. Ele também sofreu fraturas no ombro esquerdo e em um dos dedos da mão esquerda. "Fui trazido pelo Samu, fiz a cirurgia de emergência e passei cinco dias internado aqui", ressaltou.


Para um dos ortopedistas que integram o corpo clínico do HRL nessa especialidade, José Cleane Nunes Mota, os acidentes envolvendo motocicletas e motonetas, já se constituem num grave problema de saúde pública. "Acidente de moto hoje no Brasil é uma epidemia. E verificamos isso com maior gravidade principalmente no interior, onde não há um maior controle e rigor sobre os motociclistas, que usam na maioria das vezes esses veículos sem a capacitação adequada, ocasionando acidentes com grande gravidade", alerta o médico.

Em relação ao uso do álcool, o levantamento mostrou que pelo menos 13,3% das vítimas envolvidas em acidente ou violência admitiram ter consumido bebida alcoólica nas primeiras seis horas antes da ocorrência. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o álcool como um dos principais fatores de risco associados a acidentes, sobretudo os de transporte e trânsito, pois quando combinado à direção aumenta a possibilidade desses episódios tanto com condutores como pedestres, além da gravidade dos ferimentos causados. "O uso de bebida alcoólica e outros tipos de drogas propiciam um número ainda maior de acidentes, bem como aumenta a gravidade destes, pela deficiência do condutor em manter seus reflexos", diz José Cleanes, ortopedista há 21 anos.


Lesões

No levantamento foi aplicado um questionário com 60 itens, que abordam o perfil epidemiológico, social e econômico dos usuários do SUS atendidos no HRL, bem como questões específicas sobre o que caracterizou o acidente ou a violência sofrida. Os resultados apontam ainda que entre as 1.065 vítimas de acidentes e violências atendidas no HRL, durante o período das entrevistas, 35,7% das lesões atingiram os membros superiores e 32,6%, os inferiores. Para 16,5% das vítimas, as lesões atingiram a região da cabeça/face. As principais lesões foram corte/laceração, para 36,7% dos casos; contusão (24,6%) e fratura em outros 20,6%.

Além disso, o trauma de maior gravidade, na região cabeça/pescoço, acometeu 61,5% dos adolescentes e adultos entrevistados. "Os pacientes politraumatizados, normalmente, além do traumatismo cranioencefálico, também sofrem lesões nos membros superiores e inferiores. As lesões que provocam fraturas e perdas de substâncias, por exemplo, demandam um maior tempo de tratamento, além uso de instrumentais de órteses e próteses para tratá-las, elevando com isso os custos de internamento e do tratamento em si desses pacientes", ressalta o ortopedista do HRL.

Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2001 e 2011, o número de condutores de motos que morreram em acidentes aumentou 367%, passando de 3.130 a 11.485, sem contar lesões que deixam um número maior de pessoas com sequelas graves e incapacitadas. E muitas. "No caso dos politraumatizados, são pacientes que geralmente precisam de atendimento multidisciplinar, ou seja, de uma equipe formada por neurocirurgião, ortopedista, cirurgião, buco-maxilo-facial, dentre outros profissionais", acrescenta José Cleanes.

Outros dados

A pesquisa revelou ainda que 50% da população vítima de acidentes e violências tinha até 27 anos; 25% até 15 e outros 25% acima dos 43 anos. Mostra também, que em sua maioria (66,2%) era formada por homens jovens e 33,8% por mulheres. Outro dado do levantamento apontou ainda que os traumas de maior gravidade acometeram 61,5% dos adolescentes e adultos entrevistados. Em relação à busca do atendimento no HRL, o resultado mostra que 60,44% utilizaram veículo particular para chegar ao hospital; outros 20,4% usaram as ambulâncias e outros 8,7% recorreram ao Serviço de Atendimento Móvel às Urgências (Samu 192 Sergipe).