Perícia aponta uso de assinaturas falsas na criação de associações de Sergipe investigadas por fraude no INSS

05/05/2025 às 11:19:48
Foto: Fantástico/ Reprodução

Duas associações sergipanas estão no centro de uma das maiores fraudes já registradas contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A Polícia Federal (PF) apura que as entidades, com sedes em Aracaju e Nossa Senhora do Socorro, foram criadas com uso de assinaturas falsas em seus documentos constitutivos. As investigações apontam que os descontos indevidos ultrapassam a cifra de R$ 6 bilhões e atingiram pelo menos 4 milhões de beneficiários em todo o país.

As revelações foram feitas em reportagem exibida pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo, 4. A apuração teve início após uma aposentada de Feira de Santana, na Bahia, desconfiar de valores descontados em seu benefício e insistir com o Ministério Público Federal (MPF) por esclarecimentos. Foi assim que a associação Universo, com sede em Aracaju, entrou no radar das autoridades.

Perícias realizadas durante a investigação constataram que a assinatura da aposentada, supostamente usada para autorizar os descontos, não correspondia à sua real grafia. O documento havia sido forjado pela associação, que integra um grupo suspeito de ter recebido mais de R$ 300 milhões em apenas 21 meses por meio de contribuições descontadas diretamente dos benefícios do INSS.

O esquema envolvia, ainda, a associação APDAP PREV, sediada em Nossa Senhora do Socorro, município vizinho à capital sergipana. Ambas seriam controladas por Alexsandro Prado Santos, conhecido como Lequinho, e Sandro Temer de Oliveira — empresários que foram presos em abril durante a operação da PF.

As investigações revelam que os valores transferidos pelo INSS às duas associações eram, em grande parte, desviados para empresas de fachada em nome de “laranjas”. Juntas, as entidades chegaram a somar 629 mil associados, número superior à população de Aracaju, que tem cerca de 570 mil habitantes, segundo estimativas recentes.

Procurada, a defesa de Alexsandro e Sandro Temer optou por não se pronunciar.

Apesar dos indícios já detectados desde 2023, a Controladoria-Geral da União (CGU) só conseguiu implementar medidas concretas em 2024, após o início formal de uma auditoria. A CGU havia recomendado anteriormente a suspensão dos convênios que permitiam descontos automáticos de associações nos benefícios pagos pelo INSS, mas os acordos continuaram vigentes até o avanço das investigações.

Sobre a operação

Em abril, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram a Operação Sem Desconto para desarticular um esquema bilionário de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões. As investigações apontam que entidades envolvidas teriam desviado cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Seis servidores públicos foram afastados.

Cerca de 700 policiais federais e 80 servidores da CGU cumpriram 211 mandados de busca e apreensão, além de sequestros de bens que somam mais de R$ 1 bilhão e seis mandados de prisão temporária, em 13 estados e no Distrito Federal.

Os investigados poderão responder por crimes como corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documentos, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O escândalo resultou na saída do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.

 

 

Da Redação com informações do Fantástico