Como muitos brasileiros, ele nasceu numa família humilde. Sua mãe, empregada doméstica, analfabeta, criou oito filhos com muita dificuldade, mas sem faltar um teto, comida e afeto. Apesar dos percalços no caminho, o primogênito de dona Marlene, percebeu a tempo o poder transformador da educação e, entre desafios e superações, construiu uma trajetória acadêmica de sucesso, conquistando a admiração de alunos e o respeito de colegas. Em alusão ao Dia do Professor, comemorado em 15 de outubro, contaremos a história inspiradora de Alexsandro Barbosa de Melo, 50 anos, aluno egresso da Educação de Jovens e Adultos (EJA), professor de História e de Espanhol, além de ser o atual diretor do Centro de Excelência Vitória de Santa Maria, em Aracaju.
No entanto, para que uma história seja verdadeiramente inspiradora é preciso que tenha uma pedra no meio do caminho, à la Carlos Drummond de Andrade. No caso de Alexsandro, a pedra que suas retinas fatigadas não esquecem, ou seja, o acontecimento que marcou sua vida ocorreu na sua juventude, durante a sétima série do ensino fundamental.
Morador, desde pequeno, do bairro Orlando Dantas, Alexsandro foi aluno do antigo Colégio Estadual Barão de Mauá (atual Centro de Excelência). Enquanto estudante, gostava muito de ler histórias, porém sentia dificuldade em compreender matemática. A dificuldade virou um problema que resultou em quatro anos consecutivos de reprovações.
Sem incentivo em casa para permanecer nos estudos, aos 17 anos, Alexsandro decide abandonar a escola para correr atrás do sonho de ser jogador de futebol. Por cinco anos, sentiu-se feliz de integrar equipes do interior do estado de Sergipe até que, aos 22 anos, percebe que não conseguiria sobreviver deste sonho por muito tempo e abandona o futebol também.
Sem escolaridade concluída, Alexsandro precisou conseguir um trabalho que o mantivesse minimamente. Ele vendeu picolé na praia e sapato no centro, foi ainda servente de pedreiro até arranjar um contrato de trabalho como serviços gerais de um hotel. “Foi neste momento, convivendo com pessoas mais cultas e também com turistas que eu percebi a necessidade de retomar os estudos”, comenta, emocionado.
Em 1995, Alexsandro pede demissão do trabalho e se matricula no curso supletivo presencial, ofertado pelo Colégio Estadual Professora Judite Oliveira. Em 1996, conquista sua vaga no curso de História da Universidade Federal de Sergipe. “Este foi um grande feito para a minha família, pois eu fui o primeiro dos oito irmãos a ter acesso ao ensino superior. Além de mim, também consegui inspirar minha irmã caçula a cursar Inglês na UFS. Hoje, ela tem um bom trabalho e vive no exterior graças à educação que recebeu”.
Em 2002, Alexsandro se forma em História (licenciatura) na universidade pública e, no mesmo ano, é aprovado no concurso para professor da rede pública estadual de ensino. Em 2005, inicia seu segundo curso superior, agora em Espanhol, no formato Educação à Distância (EAD), que lhe possibilitou integrar a equipe de professores de Espanhol do Programa Pré-Universitário (Preuni) da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura (Seduc) até março de 2023, quando assumiu a equipe diretiva do Centro de Excelência Vitória de Santa Maria.
“Felizmente, a minha trajetória acadêmica me permitiu ter a percepção da educação básica sob diversos ângulos. Começando pelo aluno, preto, pobre, que sente dificuldades, mas também vergonha de pedir ajuda. Depois, como aluno da EJA que supera batalhas diárias, com o firme propósito de persistir. Enquanto professor, na labuta diária do chão da sala, tive o privilégio de perceber o papel transformador da educação para crianças e jovens que, como eu, sentem medo, passam por dificuldades e têm que lutar desde cedo para sobreviver. E agora, como gestor, percebo mais claramente o quanto a educação pode salvar vidas e quão importante é o papel do professor em nossa sociedade. Pois, uma escola não é só estrutura física. Ela é composta, sobretudo, de professores comprometidos e de alunos interessados”, finaliza.
Fonte: Governo de Sergipe