Delegado: 'milícia ganhou força pela ausência do Estado'
Delegado Milton Neves: detalhes da operação (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)
Delegado Milton Neves: detalhes da operação (Fotos: Cássia Santana/Portal Infonet)
Portal Infonet
03/12/2014 -

Sete pessoas presas, entre eles dois policiais militares acusados de envolvimento direto com o suposto grupo de extermínio, que tinha atuação no interior do Estado sob a liderança do ex-presidiário José Augusto Aurelino Batista, morto ao receber voz de prisão no dia 15 de outubro deste ano dentro da própria residência na cidade de Poço Verde. A Operação Poço Vermelho foi desencadeada na madrugada desta quarta e também autuou em flagrante um policial civil por posse ilegal de arma.

 

Fruto dos mandados de busca, os agentes da Polícia Federal também apreenderam onze armas, entre pistolas, espingardas de calibre 12 [escopetas] e um revólver de calibre 38, além de duas armas de brinquedo, com características semelhantes a uma arma de fogo verdadeira.

 

Nesta operação, foram presos o sargento Leonídio Rosa de Oliveira, que atua na 3ª Companhia do 4º Batalhão da Polícia Militar, no município de Simão Dias, e o soldado Adriano Batista Macedo, da 4ª Companhia do 7º Batalhão da Polícia Militar, no município de Poço Verde. Um destes policiais, embora membro da Polícia Militar de Sergipe, foi localizado no município de Cícero Dantas, na Bahia.

 

 

As investigações, segundo o delegado Milton Neves, apresentam indícios de que estes policiais militares teriam relação direta com o grupo de extermínio, criado na região para executar pessoas envolvidas com a criminalidade.

 

Mandado de busca

 

O policial civil Cris Aislan foi alvo de mandado de busca e apreensão e foi encontrado na residência dele, em Aracaju. No imóvel, os policiais localizaram armas: inclusive um revólver de calibre 38 sem registro. Em decorrência de possuir esta arma sem registro, que estava guardada em um cofre, o escrivão da polícia civil foi autuado em flagrante por posse ilegal de arma, mas não há, no momento, fatos que indiquem a participação direta do escrivão ao grupo de extermínio.

 

Milícia 

 

A Operação Poço Vermelho foi articulada a partir das investigações que estão sendo realizadas desde o mês de maio pela Polícia Federal sobre o grupo de extermínio liderado por José Augusto Aurelino Batista. Os detalhes das investigações foram revelados pelo delegado Milton Rodrigues Neves, chefe da Unidade de Repressão a Crimes Contra a Pessoa da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal. Uma investigação, segundo o delegado, que está concentrada em Brasília a partir de denúncias sobre a existência de uma lista contendo cerca de 20 nomes, que estariam marcadas para morrer na região de Poço Verde. Nove pessoas da lista foram executadas e todos os crimes, segundo o delegado, foram realizados com requintes de crueldade, indicando que teriam sido vítimas deste grupo de extermínio.

 

 

Operação Poço Vermelho mobiliza centenas de policiais federais

“Em razão da ausência do Estado, a segurança privada e a milícia terminou ganhando força para garantir uma falsa segurança na região”, enalteceu o delegado durante a entrevista que concedeu no final da manhã na sede da Superintendência da Polícia Federal em Aracaju. Augusto Aurelino mantinha uma boa relação com comerciantes e políticos na região, mas a polícia ainda não identificou relação destes comerciantes e políticos com os crimes de execução articulados por Augusto Aurelino e seu bando.

 

Morte de José Augusto

 

No curso detas investigações relacionada ao grupo de extermínio ocorreu a morte de Augusto Aurelino e a Polícia Federal foi provocada a atuar também nestas investigações. Na semana passada, a PF recebeu o laudo cadavérico concluído, que traz indícios de que a morte de Augusto Aurelino teria sido também uma execução. Mas estas investigações ainda são incipientes, conforme destacou o próprio delegado na coletiva.

 

O local do corpo atingido pelos tiros disparados pelo grupo policial responsável pela operação para cumprimento de mandado de prisão contra Augusto Aurelino revela os indícios de execução. “Mas o laudo é apenas uma peça que deve ser confrontado com outros elementos de prova”, adverte o delegado federal.

 

Na operação realizada nesta quarta-feira, 3, dois homens que não são policiais também foram presos sob acusação de envolvimento direto com o grupo de extermínio. Apesar de não ser policiais, segundo o delegado Milton Neves, os dois acusados participaram da ação policial da Secretaria de Estado da Segurança Pública, que culminou com a morte de Augusto Aurelino, em Poço Verde.

 

As investigações ocorrem em inquéritos distintos e ainda não estão concluídas. O delegado não descarta a possibilidade de outras pessoas serem presas.