Desabamento: Casal passa mais sufoco no cemitério
24/07/2014 -
Ao receberem alta do Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), o casal Josevaldo da Silva, 24, e Vanice de Jesus, 31 [que sobreviveu ao desabamento de um prédio no último sábado, 19 no bairro Coroa do Meio] nem sonhava que teria de passar por mais um sufoco na vida: a demora para sepultar o corpo do filho de 11 meses. Após quatro horas e meia para ser feita a liberação, o caixão do menino teve que ficar por mais de uma hora dentro do carro da funerária, porque a documentação emitida pelo IML estaria com o nome da criança errado. A assessoria do IML garante que a família e o motorista da funerária foram embora antes que a médica assinasse o documento.
Sentado numa cadeira, Josevaldo da Silva hora conversava com familiares, hora lamentava a morte do filho, hora conversava com a imprensa, recebia o carinho dos bombeiros e da família, mas chorava, chorava muito todas as vezes que olhava o caixãozinho branco dentro do carro da funerária, aguardando.
“Estamos vivos, mas falta meu filho. A gente está aqui só se despedindo do corpo, mas a alma dele está com Cristo. Acredito que ele veio para melhorar e Deus veio para fazer o milagre”, afirma com a voz embargada.
Ao receber o abraço das oficiais do Bombeiro, Perla, Lígia e Claudênia, Josevaldo agradeceu: “obrigado. Vocês são uns guerreiros, uns anjos de Deus”.
Já a esposa Vanice de Jesus, ainda muito abalada relatou antes de o corpo chegar que na noite do sábado, 19 haviam saído para lanchar e assim que voltaram se deitaram no colchão [ela, o marido e os filhos: a menina de oito anos e o bebê de 11 meses].
“Todos os fins de semana eu pegava as crianças e ia passar com ele no prédio. A gente brigou, mas se reconciliou. Naquela noite, quando a gente chegou, deitou e logo ouviu um barulho. Pensamos que tinha alguém entrando no prédio. Ficamos quietos e depois pensamos que tinha sido só uma laje. O lugar era tão apertado que do jeito que a gente tava ficou. Não tive como amamentar meu filho, pois além de estar cheia de terra em cima de mim, não tinha como virar. A menina era mais calminha, mas ele chorava muito. Não sabia se era dia, se era noite. A gente tinha muita sede, ouvia a voz dos bombeiros muito longe e só queria sair dali”, relata.
Ela não teve como falar mais, porque passou mal e foi levada para a capela do cemitério. A filha de oito anos não foi para o sepultamento.
Documentação
Na porta do cemitério, ao serem indagados por familiares e amigos os motivos da demora, a informação foi de que “a documentação emitida pelo IML veio errada”.
“Acabei de conversar com os responsáveis pelo cemitério e não tem como enterrar porque a documentação veio errada do IML. O nome da criança está errado e a cunhada do dono do prédio voltou lá para pegar outro”, enfatiza o motorista da funerária, José Cláudio Morais.
IML
Na assesoria de Comunicação Social do Instituto Médico Legal (IML), a informação é de que o diretor operacional, major Lima Alves explicou que o nome da criança não estava errado.
“O que houve foi que a família ansiosa para fazer o sepultamento, assim que a médica liberou o corpo, o rapaz da funerária foi embora com os familiares. Quando a funcionária chegou da sala da médica com o documento assinado e perguntou, disseram que já tinham ido embora. E assim que chegaram no cemitério perguntaram pelo documento e não tinham, então voltaram. Mas o nome do menino não estava errado, o pessoal aqui do IML é preparado”, ressalta.
Quanto à demora para liberar o corpo do bebê, a assessoria explicou que o médico sai ao meio dia e a família chegou pouco depois. “Com isso, teve que esperar o outro médico chegar às 14 horas”, garante.
O corpo só foi sepultado por volta das 18 horas.
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