O primeiro dia de greve dos bancários gerou muitos transtornos à população de Sergipe. Os problemas começaram logo cedo. Às 8h30, clientes da Caixa Econômica Federal reclamavam da falta de envelopes para depósito. Em pelo menos duas agências – General Valadão e Fausto Cardoso – muitas pessoas voltaram sem realizar a transação bancária. Filas e mau funcionamento dos caixas eletrônicos também causaram prejuízos e confusão no último dia do mês.
Na Caixa Econômica do Centro da cidade, a aposentada Maria de Deus Andrade, de 58 anos, estava indignada. “Tenho problema no coração, diabetes e sou hipertensa. Estou aqui para receber minha aposentadoria, como faço há dez anos, mas nada. Não tem ninguém para dizer o motivo do dinheiro não estar na minha conta. O que vou fazer agora? Preciso comprar remédio e comer”, lamenta ela.
A dona de casa Brenda Gonçalves foi abrir uma conta corrente no Banco do Brasil, mas foi orientada a voltar depois da greve. “Meu marido foi para o Rio de Janeiro e ficou de depositar um dinheiro amanhã, por isso tenho urgência em abrir uma conta corrente, mas disseram que não tem jeito, vou ter que esperar os bancários retornarem ao trabalho, só não sei quando”, diz Brenda.
O movimento paredista dos bancários também causou desordem na vida da auxiliar de produção Joelma Monteiro de Oliveira, que nem o saldo teve como imprimir no caixa eletrônico do Banco do Brasil do Centro de Aracaju. “Esta dando que a impressora está com problema. Sempre que os bancários fazem greve, quem paga é a população, que não tem nada com isso”, desabafa a trabalhadora.
Apesar do Banese ser o único banco funcionando normalmente em todo o Estado, houve problemas na manhã de ontem. Pelo menos para os pensionistas e aposentados do Estado, que deveriam ter amanhecido na terça-feira com os salários depositados na conta. Segundo o gerente de Marketing do Banese, Edivam Clienger, houve falha do banco no processamento. “Pedimos a compreensão de todos. O Banese é o único banco aberto em Sergipe. Estamos todos engajados para resolver o problema ainda hoje (ontem)”.
Casas lotéricas
Com a greve dos bancários, a procura pelas casas lotéricas foi grande no primeiro dia do movimento paredista. Em Aracaju foi difícil encontrar uma lotérica sem fila. “Tenho que fazer esse pagamento hoje (ontem) e o banco está em greve. Tentei pagar no caixa eletrônico, mas a fila estava enorme. Então, recorri para a casa lotérica”, conta a estudante Janaina Silva.
E ela tem razão. A greve dos bancários não tira do consumidor a obrigação de pagar as contas em dia. É importante lembrar ainda que há vários serviços alternativos que não são afetados pela greve, como caixas eletrônicos, internet banking, aplicativo do banco no celular (mobile banking), operações bancárias por telefone e também pelos correspondentes, que são casas lotéricas, agências dos Correios, redes de supermercados e outros estabelecimentos comerciais credenciados.
Quanto à preocupação de clientes em faltar dinheiro nos caixas eletrônicos, José Souza tenta tranquilizar a população. “Esse problema não deve acontecer aqui. Na greve dos bancários do ano passado, que durou 20 dias, não faltou dinheiro. Acredito que essa também não vai faltar”, avalia o líder sindical.
A greve
Em Sergipe, a greve por tempo indeterminado foi confirmada pelo Sindicato dos Bancários na última segunda-feira e contraria a orientação do Comando Nacional de Greve que determina que todas as agências bancárias estejam fechadas. Isso porque o Banco do Estado de Sergipe (Banese) está funcionando normalmente, com todos os funcionários desempenhando suas atividades.
Informação confirmada pelo JORNAL DA CIDADE tanto com a direção do Banese quanto com o presidente do Sindicato dos Bancários, José Souza, que explica que a decisão de não aderir ao movimento paredista foi dos próprios funcionários do Banese, que teriam aceitado a proposta apresentada pela direção do banco. “A direção do Banese propôs reajuste de 8% sobre o salário e o piso. Além disso, concedeu abono de R$ 1.100 e outros benefícios”, esclarece Edivam Clienger.
Já os bancários das outras instituições financeiras, de acordo com o presidente do Sindicato dos Bancários do Estado de Sergipe (Seeb/SE), José Souza, teriam rejeitado por unanimidade a proposta apresentada pela Federação Nacional dos Bancários (Fenaban). “O Banese é o único que funcionará, pois foi apresentada uma proposta avaliada como satisfatória pelos funcionários”, explicou Souza, ao informar que a proposta do Banese envolve também melhoras na ajuda de custos para atividades físicas.
Ainda segundo Souza, os bancários, com exceção dos ‘banesianos’, pedem 12,5% de reajuste salarial, com aumento real de 5,4% mais inflação projetada em 6,35%, e lutam por outras reinvindicações como vale-cultura de R$ 112, combate ao assédio moral e fim das metas abusivas. A proposta da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) é um reajuste de 7,35% para os salários e aumento no piso da categoria de 8%.