Jornalista sergipana, Tainah Quintela defende que a comunicação importa, liberta e empodera
Comunicadora já esteve em Pernambuco e na Bahia ministrando palestras sobre comunicação e posicionamento nas redes sociais
Foto: Joe Oliveira/ Divulgação
Foto: Joe Oliveira/ Divulgação
24/07/2023 - 07:57:32

Com mais de 10 anos de experiência em comunicação nos setores público e privado, a jornalista sergipana Tainah Quintela é a criadora do Rede Mídias, um projeto idealizado para impulsionar o crescimento de mulheres empreendedoras através do posicionamento estratégico no cenário digital. Por meio desse trabalho, ela começou a ganhar destaque na área e hoje já ministra palestras fora do estado para enaltecer a importância da comunicação.

Graduada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), certificada em Comunicação Digital e Mídias Sociais na Gestão Pública pela Consultre e pós-graduanda em Marketing Estratégico e Comunicação Digital na Universidade Tiradentes (Unit), Tainah Quintela é assessora do Creci Sergipe (Conselho Regional de Corretores de Imóveis 16ª Região) e defende que a comunicação importa, esclarece, liberta e empodera.

Em entrevista ao Site Sergipe em Foco, a comunicadora fala sobre os desafios da profissão na era do excesso de informação e conta como surgiu o Rede Mídias e qual o futuro do projeto, além de ressaltar o papel da comunicação como ferramenta de empoderamento feminino.

Sergipe em Foco: As redes sociais mudaram a forma como consumimos e produzimos conteúdo.  E isso afeta também a disseminação de informação. Essa nova realidade modificou a percepção da sociedade sobre o papel do jornalista? De que maneira?

Tainah Quintela: Sim, mudou a percepção da sociedade e até do próprio jornalista sobre si mesmo. Nós vivemos um excesso de informações, o que não gera, necessariamente, excesso de conhecimento, muito menos significa garantia de notícias confiáveis. Ao contrário. Penso que o excesso, sem a devida clareza, gera mais confusão do que conhecimentos. Mais ilusão do que atualização. Qualquer pessoa com acesso à internet pode compartilhar o que sabe – ou replicar o que recebe. Detalhe: imprimindo suas visões de mundo, seus filtros, sua subjetividade… e sentindo segurança ao fazer isso. É bom e ruim. Promissor e perigoso. Nesse contexto, entendo ser bem maior a importância do jornalista, que enxergo como um profissional de imensurável responsabilidade de curadoria. Pelo que leio, observo e sinto, ouso dizer que a sociedade também percebe isso. Em plena era de pós-verdade e notícias falsas (não suporto esta nomenclatura, mas faz mais sentido contextualizar assim), as fontes confiáveis são ainda mais necessárias. E o jornalista pode ser visto, sim, como fonte confiável, desde que trabalhe seu posicionamento de acordo.

SF: Propondo ainda uma reflexão sobre esse cenário, qual seria o maior desafio de um profissional da comunicação hoje?

TQ: Vou citar mais de um. O primeiro é conseguir se posicionar como uma fonte confiável. Porque a emersão das redes sociais digitais não proporcionou só a ‘horizontalização’ da produção de conteúdos e a aceleração dos ciclos de notícias. Trouxe também para todos (inclusive aos profissionais da comunicação) a possibilidade de gerenciar sua marca pessoal. E há uma linha tênue entre elementos da marca pessoal e de uma autopromoção - esta pode confundir o público e comprometer a credibilidade. É possível aproveitar as oportunidades de maior alcance e visibilidade para fortalecer a qualidade de informação e a confiança do público.

Outro desafio é se adaptar às mudanças e aproveitar suas oportunidades. Trabalho com assessoria de comunicação há mais de 10 anos e sei que os saberes do jornalista se tornam ainda mais necessários a cada ‘avanço’ que bate à porta. Não tenho experiência como repórter ou de redação de jornal, mas diversas competências do jornalismo guiam meu trabalho diariamente na comunicação como um todo. Então não acredito que as redes sociais ou quaisquer plataformas substituam o jornalismo ou qualquer outra profissão da comunicação. Ao contrário. Penso que essa ideia vem a partir do momento em que nos colocamos em posição de vítimas das mudanças tecnológicas. Eu escolho usar as ferramentas, não o contrário. Nós coexistimos.

SF: Quando e como nasceu o Rede Mídias? Fale um pouco sobre esse processo.

QF: Rede Mídias nasceu como um projeto de agência de comunicação voltada para mulheres empreendedoras que não tivessem acesso a grandes mídias ou aos serviços de comunicação integrada proporcionados por uma agência tradicional. Comecei criando conteúdo gratuito no Instagram e oferecendo consultorias, a preços mais acessíveis, com ênfase em criação sustentável de conteúdo e estratégias de comunicação para empreendedoras que estavam tentando se adaptar no digital, bem no auge da pandemia.

Fui amadurecendo minhas ideias e o projeto ao ponto de perceber que eu precisava ir além de compartilhar dicas ou serviços de baixo custo. Além de criação de conteúdo, entrou forte em minha linha editorial a pauta do posicionamento. Paralelamente fui entendendo que precisava gerenciar a minha marca pessoal também. Os produtos foram mudando, mas a essência do projeto não. Em três anos de existência (e resistência), entre altos e baixos, o projeto atendeu dezenas de mulheres em serviços individuais e centenas em eventos e aulas no digital. Passamos por algumas mudanças (o projeto e eu…rs) e a partir do mês de agosto deste ano o Rede Mídias seguirá como um projeto de vertente social, porém mais independente de Tainah, pessoa física. Teremos conteúdos gratuitos com maior constância no Instagram e em outras plataformas, imersões com preços mais acessíveis ou gratuitas e umas novidades relacionadas às consultorias.

Foi doloroso o processo de aceitar que, para o projeto desenvolver mais, eu precisava investir em mim também e entender que tenho produtos e públicos diferentes, mas abraçando um só propósito: mostrar ao mundo que comunicação importa. Um propósito ousado, mas viável enquanto eu existir.

SF: Como você avalia a trajetória do Rede Mídias? Qual a expectativa para o futuro?

TQ: Nasceu junto com a melhor versão de quem eu sou. A melhor versão até o momento. Porque veio de uma sede absurda de desenvolver a comunicação de um jeito que eu ainda não tinha desenvolvido. Mesmo com tantos anos de assessoria e serviços prestados a pessoas e instituições diversas em Sergipe, eu caí no automático em vários momentos. Confesso que por bastante tempo eu segui moldes. Ainda não tinha encontrado o meu jeito de viver da comunicação. Mas tudo que vivi, entre erros e acertos, foi muito importante para que eu aprendesse a me posicionar como me posiciono hoje. Ainda erro e vou errar muito. Lápis bonito não tem história para contar. O Rede Mídias é uma oportunidade de mostrar que é possível criar e alimentar uma rede de mulheres que acreditam na comunicação como uma estratégia de vida, não só de negócios. Tenho ideias e projetos grandiosos para o Rede Mídias, mas até que seja possível implementá-los, vou desenvolvendo com o que tenho e com o que posso. Esse projeto vai crescer muito, e eu espero que comece por Sergipe. Ainda vou ver muitas mulheres defendendo que comunicação importa. E importa mesmo. Comunicação esclarece, liberta, empodera.

SF: Através do Rede Mídias você tem ministrado palestras e treinamentos. Recentemente, esteve em Pernambuco e na Bahia. Como tem sido essa experiência? Já existe um próximo evento previsto?

TQ: Muito boa! Até pouco tempo atrás, eu dizia que ensinar não era para mim e que eu preferia os bastidores. Com terapia, teoria e prática, fui ressignificando o que é ou não para mim. Ensinar é para mim. Eu amo os bastidores, mas posso usar o palco ou uma sala de aula para disseminar que comunicação importa (e como fazer isso). Posso mostrar - para quem estiver aberta a aprender - que comunicar-se com clareza e assertividade não é fácil, mas é possível. E é simples defender tudo isso porque é no que eu acredito mesmo.

Tenho imersões on-line previstas para este ano ainda e alguns projetos frutos de parcerias com profissionais e instituições que querem levar para seus públicos mais conteúdos sobre comunicação e posicionamento. Nos próximos dias vou compartilhar informações nas redes sociais.

SF: Conciliar esse trabalho com o de assessora é desafiador? Quais as diferenças e similaridades desses dois universos?

TQ: Muito! Há alguns dias, uma amiga que é também jornalista perguntou se eu conseguia aplicar, por meio dos serviços da assessoria, tudo que eu defendo na comunicação. E respondi, sinceramente, que não. Na assessoria eu preciso separar o que Tainah quer do que é solicitado pelo assessorado. Entram questões políticas, pessoais, econômicas.... tudo interfere. Mas a cada dia que passa, eu conheço mais de mim e me esforço para compreender melhor o outro, até onde posso ir e como desenvolver o máximo possível do que eu quero.

Na assessoria, eu trabalho a gestão de marca do assessorado (seja instituição ou pessoa) em conjunto, porém é um serviço muito prático. Eu escrevo pelo assessorado, eu alinho seu discurso e oriento. E é cultural também que o assessor acabe fazendo além do que lhe é devido em alguns momentos: atividades de social media, fotógrafo, cerimonial, repórter… rs Acontece! Nas consultorias e imersões, o meu papel é total de direcionamento. Estudo muito (teoria e o universo da cliente ou do público em questão) para que a minha entrega seja máxima. E é necessário que haja essa compreensão de qual é o meu papel ali. Estou com aquela empreendedora para esclarecer, orientar. Usando um ditado bem clichê para resumir a diferença. Na assessoria, eu dou o peixe (incentivando que o assessorado esteja atento ao processo); nas consultorias e imersões, eu ensino a pescar.

O que ambos universos têm em comum: eu tenho e aproveito a oportunidade de mostrar que comunicação importa. Vou plantando sementinhas. Dá um trabalho danado, mas em alguns terrenos (os mais férteis e bem regados), algumas crescem.

SF: O que é indispensável para se manter no mercado da comunicação?

TQ: Trabalhar o posicionamento. Não só no sentido comercial e de marketing, que é de gerenciar sua marca para ocupar um bom lugar na mente do cliente. Mas na perspectiva de atitude mesmo. De fazer escolhas. Hoje escolho bem mais de acordo com a linha editorial da minha vida: meus trabalhos, meus lazeres e, tão importante ou mais, escolho as minhas pessoas. Eu não vou conseguir me comunicar com todos. Nem quero. Minha mensagem é clara: comunicação importa. Estou fazendo escolhas que me mantêm no mercado da comunicação, mas lidando com pessoas que entendem isso. Não assessoro mais só por assessorar nem aceito qualquer condição de trabalho. Esta consciência me fechou muitas portas… graças a Deus. E abriu outras que fazem mais sentido para mim. Um posicionamento bem trabalhado permite que você tenha consciência sobre o que e como estudar, quais parcerias fazer e que causas abraçar. Coragem e uma dose discreta de loucura também ajudam.

SF: Do início na profissão até hoje, qual o principal aprendizado? O que te faz continuar buscando crescer nessa carreira?

TQ: É preciso ter uma base, um propósito. Precisamos escolher nossas pessoas, focar energia no que faz sentido, por mais desafiador que seja. Isso não nos dá garantia de acertos ou de um futuro linear, mas nos dá força para seguirmos alinhados ao que importa. Comunicação é sobre gente. Não é sobre emitir uma mensagem, muito menos sobre ouvir para responder. É troca, é tradução. Não é fácil, mas é viável. Comecei essa jornada quando identifiquei o que eu não queria. E vou continuar nela porque já sei o que quero. 

 

Da Redação do 
Sergipe em Foco