A tarefa de fornecer água de boa qualidade onde ela é necessária tem se tornado cada vez mais difícil em todo o mundo. Por isso, desde o começo das suas operações no Estado, em 1969, a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) tem concentrado sua prioridade na ampliação e regularização do sistema de abastecimento de água.
Atualmente são 187 milhões de m³ de água tratada produzidos pela empresa. Mais de 550 mil economias de água atendidas em Sergipe. Dessa forma, as últimas décadas foram marcadas pela consolidação de grandes obras, pelo melhor aproveitamento da infraestrutura hídrica e pela implantação de uma gestão mais eficaz da água, assegurando a oferta do bem essencial com qualidade e de forma contínua aos domicílios urbanos.
A primeira obra de visão estratégica
Inicialmente, a capital sergipana era abastecida por três sistemas: Ibura, Poxim e Cabrita. No entanto, de 1970 a 1980, a população aracajuana aumentou 60%, passando de cerca de 183 mil para quase 300 mil habitantes. Esse crescimento exagerado e desordenado de habitantes fez com que a Companhia buscasse outros meios para atender ao crescimento da demanda de água da cidade, como também o crescimento econômico, que trouxe a implantação de dois grandes projetos industriais em Aracaju, a Nitrofértil e a antiga Petromisa, ambas da Petrobras.
“A Deso foi responsável pela elaboração de vários projetos de ampliação e melhoria de diversos sistemas de abastecimento de água de cidades do interior e da capital, principalmente os que buscavam combater a seca e levar saneamento básico para as comunidades. O ápice da gestão da Deso nos anos 80 foi a construção da Adutora do São Francisco, que é considerada a mais monumental obra que Sergipe tem no setor”, afirmou o diretor de Operações da Deso, Sílvio Múcio.
A Adutora do São Francisco entrou em operação em 1982 e levou água para Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros, Atalaia Nova, Malhada dos Bois e Muribeca. Com ela, Aracaju passou a ser a primeira capital do Nordeste a ser abastecida pelo Rio São Francisco, o maior, mais importante e mais seguro suprimento do Estado, com água de boa qualidade para o consumo humano. A construção da Adutora afastou os tão constantes e sérios problemas de desabastecimento que remetia à capital sergipana desde sua origem, e assegurou a demanda de crescimento populacional nos dez anos seguintes.
Aumento da demanda por água
A expansão das atividades industriais foi o grande motor do crescimento urbano do aglomerado da Grande Aracaju, que representa a capital sergipana e os municípios de Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. A expansão dessa área metropolitana motivou o crescimento intenso da demanda por água tratada e a duplicação da Adutora do São Francisco se tornou vital.
Em 1997, foi assinado o contrato para Duplicação, que em sua primeira fase compreendia 17 km, referente ao trecho entre o povoado Pedra Branca, em Laranjeiras, e a Estação de Tratamento João Ednaldo, no povoado de Sobrado, em Nossa Senhora do Socorro. A obra de duplicação se estendeu por mais 13 anos, principalmente por conta de problemas com recursos disponíveis.
Enquanto a duplicação da Adutora do São Francisco não se concretizava, nos períodos de estiagem, o abastecimento de água da capital ficava totalmente comprometido. Em 2005, durante uma das piores secas já enfrentadas pelo Estado, a vazão mínima do Rio Poxim chegou a 350 litros por segundo, quando o necessário era de 1.100 litros por segundo. Nesse ano e em 2009 a capital sofreu com o rodízio no abastecimento, quando a cada dia alguns bairros da cidade ficavam sem fornecimento de água.
Uma breve pesquisa no Jornal da Cidade, nos meses de fevereiro e março de 2005, mostra que cerca de 20% dos moradores da capital sergipana, aproximadamente 100 mil habitantes foram atingidos pelo racionamento. Nos bairros Rosa Elze, Rosa Maria, Eduardo Gomes, Luiz Alves, Médici, Orlando Dantas, Augusto Franco, Santa Lúcia, Inácio Barbosa e parte do Santos Dumont, 18 do Forte e Siqueira Campos, os relatos são de que as pessoas tinham grandes dificuldades em conseguir água da torneira. Com o abastecimento sensivelmente reduzido, era comum ver moradores com baldes e bacias de água na cabeça, armazenando o máximo de água que conseguiam. Diversos estudantes foram prejudicados com a suspensão das aulas.
“Muitos (alunos) chegaram aqui (na escola) sem tomar banho, e para piorar a situação, eles não tinham uma gota de água para beber. Sem água fica impossível preparar a merenda escolar e limpar os banheiros, que estão uma imundice. O jeito foi mandar todos de volta para casa”, reclamou um das coordenadoras da Escola Estadual Petrônio Portela, localizada no Conjunto Augusto Franco (JC, março de 2009).
Os dias sem água não seriam mais uma realidade da região metropolitana após a duplicação da Adutora do São Francisco. Na sua segunda fase de obras foram realizados cerca de 36 km, e a terceira fase com 37 km foi finalizada em 2010, durante o Governo de Marcelo Déda.
Segurança Hídrica
As longas caminhadas em busca de água potável nas fontes, os baldes e bacias de água na cabeça não farão mais parte da história do abastecimento de água da capital sergipana. Tampouco os racionamentos e rodízios. A duplicação da Adutora do São Francisco trouxe a garantia do abastecimento de água na Grande Aracaju. A produção de água do sistema subiu de 1.750 para 3.000 litros por segundo.
“A partir de 2010, nós já não tivemos mais problemas com racionamento no verão, pois começamos a operar o Sistema São Francisco, explorando sua capacidade máxima e suprindo a queda da vazão do rio Poxim nos meses mais quentes e de consumo elevado”, explicou Sílvio Múcio. Para ele, em 2014, a segurança hídrica conta com um reforço ainda maior com a barragem do Poxim.
Nos períodos de estiagem, o rio Poxim trabalhava com uma redução na vazão, causando graves problemas no abastecimento de água da capital, já que 33% da cidade era abastecida pela estação do Poxim. “A captação de mais água do sistema do São Francisco era fundamental para solucionar problemas com racionamento de água. Juntos, as adutoras do Poxim e do São Francisco são responsáveis por 90% do abastecimento”, relatou Sílvio Múcio.
Na Barragem, foram investidos R$85 milhões na estrutura que compõe uma área inundável de 5,2 km², com capacidade de armazenamento de 33 milhões de m³. O represamento é feito por uma estrutura física de 1.125 metros de extensão e cota de 25 metros de altura. Enquanto a Adutora do São Francisco teve a sua produção ampliada, a barragem do Poxim começou em 2013 a cumprir o seu papel de manter a regularidade do abastecimento.
A barragem acumula água represada do rio Poxim-Açú, nos períodos chuvosos, para ser utilizada durante a estiagem. Em média são 900 litros de água por segundo mantidos na produção durante o todo o ano. “A Barragem do Poxim dá mais segurança, com ela é possível manter a vazão do rio que era perdida no verão”, garante o diretor de Operações da Deso.
Redução de Perdas
A infraestrutura hídrica conquistada pela Deso permite o abastecimento regular da Grande Aracaju. Entretanto, o Diretor-presidente da Companhia de Saneamento de Sergipe, Antônio Sérgio Ferrari Vargas ressalta a importância e foco da empresa no trabalho de redução de perdas. “A situação de segurança da Deso é uma conquista que foi sendo planejada e implantada ao longo dos anos, mas isso não pode deixar a gente parado. Dependemos de um rio e uma barragem, e isso é finito. Agora chegou o tempo de investirmos em diminuir a quantidade de água que nós estamos perdendo, desperdiçando, e incentivar o consumo consciente”, defende Ferrari.
Fazer uso consciente da água é necessário para a manutenção das fontes de abastecimento. Por isso o trabalho de combate ao desperdício é um compromisso mútuo que deve ser seguido pela Deso e pela população. Desde 2013, a empresa deu início a um programa destinado a diminuir as perdas provocadas por vazamentos e ligações clandestinas. As atividades executadas por meio da Diretoria de Operações, segundo Ferrari, são prioridade em 2014. Também tem sido foco da Deso cuidar da oferta de água desde a sua origem, na captação. São monitorados todos os rios, riachos e poços que servem como mananciais para abastecimento humano em Sergipe.