Os policiais civis liderados pelo sindicato da categoria, Sinpol, após realizarem ato em praça pública em Aracaju, ocuparam as galerias da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) para tentar impedir a votação de projeto que já havia sido discutido com o governo e aprovado pela categoria. No entanto, apareceu um agravante que surpreendeu a maioria dos policiais, segundo a diretoria sindical. De quatro pontos do projeto apresentados pelo governo, como paridade e criação de classe especial, os policiais não aceitaram a mudança de pagamento salarial para a forma de subsídio, porém o Sinpol recebeu a notícia de que alguns policiais criaram um abaixo-assinado pedindo justamente o que havia sido negado em assembleia.
O projeto junto com o abaixo-assinado foi encaminhado hoje (01) pela manhã à Alese, mas não houve votação, já que foi transferida para amanhã. Os policiais estiveram conversando com os deputados antes do início da sessão para tentar sensibilizá-los. Segundo a categoria, com o subsídio haverá perdas salariais, férias, e de gratificações como licença prêmio, diferente da maneira atual que os policiais recebem o salário junto com as gratificações.
“Hoje sou policial de primeira classe, daqui há um ano eu vou até a classe especial, mas vou com o mesmo salário que tenho hoje e isso implica dizer que isso no subsídio eu terei perdas. Com 28 anos de polícia vou ter uma perda substancial no meu salário que vai me fazer esperar mais um ano para poder ser alcançado por esse subsídio. Se ele for aprovado, eu também não terei direito ao aumento linear. O governo, não se dando por satisfeito, atira na categoria usando alguém que eu não sei, que se infiltrou no nosso meio e conseguiu colocar alguns policiais contrários a sua própria categoria. O governo resolveu desrespeitar, menosprezar a categoria e fazer valer por vias a assinatura de alguns escrivães e alguns agentes de polícia num abaixo assinado”, disse Rosendo Filho, da diretoria do Sinpol.
De acordo com Rosendo, o governo sinalizou que vai aceitar o abaixo-assinado feito por cerca de apenas 500 assinaturas, o que demonstra que a lista tem mais poder do que a decisão da maioria. “O governo desrespeita vergonhosamente uma decisão da categoria, assim como fez com a Polícia Militar que hoje não tem representação. Há dois anos não recebemos o aumento linear. Hoje me sinto um nada na categoria policial, porque sou desrespeitado. Recebemos o salário bruto que gira em torno de 10 mil reais, mas ai vem uma carga de cerca de 45% de impostos. Nós vamos acabar perdendo o que conquistamos em 2008 quando o governador Marcelo Deda nos deu dignidade, mas agora eles querem roubar nossa dignidade”, argumenta.
Segundo o presidente do Sinpol, Antônio Morais, os policiais estão passando por uma grande crise interna, embora seja por um grupo pequeno de pessoas. “Essa categoria se reuniu no dia 25 de maio e no dia 30 de junho e nas duas oportunidades nós dissemos 'não'. Nesse momento não há o que pedir a mais. Então vem um grupo de policiais que está passando por cima da decisão da categoria com abaixo-assinado que não possui nenhum valor jurídico. Qual é a certeza de que as assinaturas são verdadeiras? Eles conseguiram enganar o governo e deputados que estão acreditando que essa é a vontade da categoria. Se eles tivessem certeza, estariam aqui na Alese todos, mas só vieram dez. O parlamento está sendo conduzido a esse erro que vai prejudicar o dia-a-dia da polícia”, analisa.
E Morais completa – "Acho que não há possibilidade de greve, porque o desgosto foi tão grande que não temos nem motivação. O trabalho já está indo pelo ralo. Não há mais estimulo para trabalhar. Nosso trabalho está dentro de um subjetivismo muito forte. Então nós vamos viver com essas ações midiáticas, mas não temos índices de redução de criminalidade, quanto mais prisões é sinal de que as coisas não estão indo bem. O policial está mostrando que está decepcionado".