Mais de 4,7 mil pessoas morreram em dez anos no Estado de Sergipe, vítimas de disparos de arma de fogo. Foi o que apontou o mais recente relatório do Mapa da Violência 2015, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na última quarta-feira, 13, considerando dados oficiais de 2012. Sergipe pulou do nono lugar em 2002 para a sétima posição em 2012.
Segundo dados do Mapa, entre os anos de 2002 e 2012 os óbitos por arma de fogo em Sergipe subiram 58,9%. Entre 2011 e 2012 foi registrado um crescimento de 23,7%. Fazendo um comparativo, o número de homicídios por tiros no Estado, em dez anos, é maior do que a população de dez municípios sergipanos, como por exemplo Amparo do São Francisco (2.275 habitantes) e Santa Rosa de Lima (3.749).
“A violência na vida social não é um fato que possa ser explicado e compreendido pela ação isolada dos indivíduos, seus temperamentos, irascibilidade ou ainda pelo uso de substâncias estimuladoras, como o álcool ou as drogas. A violência torna-se uma linguagem cujo uso é validado pela sociedade, quando esta se omite na adoção de normas e políticas sabidamente capazes de oferecer alternativas de mediação para os conflitos que tensionam a vida cotidiana, aprofundam as desigualdades e promovem injustiças visíveis”, apontou o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do relatório.
“A tradição de impunidade, a lentidão dos processos judiciais e o despreparo do aparato de investigação policial são fatores que se somam para sinalizar à sociedade que a violência é tolerável em determinadas condições, de acordo com quem a pratica, contra quem, de que forma e em que lugar”, completou.
Jovens e negros
De acordo com o Mapa, das 4.720 pessoas mortas por arma de fogo em Sergipe nesses dez anos, 2.742 foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos, ou seja, quase duas em cada três vítimas integrava esse grupo etário. Nos dois levantamentos anteriores, com dados de 2010 e 2011, o Mapa da Violência apontou um crescimento de 30,9%. Sergipe é o sétimo entre os Estados com uma taxa de óbito de 64,5.
O Mapa mostrou ainda que os negros também foram a maioria das vítimas por arma de fogo em Sergipe. Entre 2003 e 2012 a taxa de homicídio entre os brancos foi de 31%, enquanto os de negros chegou a 291,2%. O relatório apresentou também que em 2012 foram mortos 10,3 brancos por 100 mil habitantes, contra quase quatro vez mais de negros.
Brasil
Desde 1980, ponto de partida do Mapa, até 2012, último ano de dados disponíveis, morreram no Brasil um total de 880.386 pessoas vítimas de disparos de armas de fogo. Entre os anos de 1980 e 2012 a população teve um crescimento em torno de 61%, as mortes matadas por arma de fogo cresceram 387%, mas entre os jovens esse percentual foi superior a 460%.
“Em outras palavras, mais jovens morrem por armas de fogo, apesar da redução inicial provocada pela aprovação do Estatuto do Desarmamento. E a gravidade se torna ainda maior quando se sabe que, em sua maioria, são os jovens negros as vítimas dessa escalada. Racismo, violência e impunidade se associam na degradação do ambiente social brasileiro”, disse o relatório.
O Mapa da Violência tem como fonte o Subsistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que apresenta um aceitável grau de fidedignidade e possibilita delinear comparações nacionais e internacionais por possuir um elevado grau de sistematização e cobertura. Atualmente gerido pela Secretaria de Vigilância em Saúde.
Segundo o Mapa, os números de homicídios podem ser maiores, já que existe uma grande limitação, assumida pelo próprio SIM, que é o sub-registro, devido à ocorrência de inúmeros sepultamentos sem a devida certificação, determinando uma redução do número de óbitos declarados.
SE ocupa sétima posição em mortes com arma de fogo
15/05/2015 -
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