O enteado do secretário de Segurança Pública de Sergipe, João Eloy, o jovem Ítalo Bruno Araújo Fonseca, e o amigo Eduardo Aragão de Almeida foram indiciados por dois crimes – porte de arma ilegal de fogo de uso restrito da polícia e usurpação de função pública – e podem pegar até oito anos de cadeia cada um, se condenados. Eles são acusados de tentar assaltar um taxista na Orla da Atalaia, em Aracaju, no dia 25 de maio. Apesar de flagrados com uma pistola e um fuzil realizando uma falsa blitz na Passarela do Caranguejo, foram liberados pelo delegado Antônio Augusto César sem o registro de flagrante. O delegado Valter Simas, responsável pela investigação do caso, já encaminhou o inquérito policial para a 2ª Vara Criminal de Aracaju.
Ao JORNAL DA CIDADE, o delegado Valter Simas falou, com exclusividade, sobre o trabalho investigativo envolvendo o enteado do secretário de Segurança Pública de Sergipe, João Eloy, e o amigo Eduardo Aragão. “Fizemos um trabalho minucioso, transparente, inclusive solicitei a presença de um promotor do Controle Externo da Atividade Policial, do Ministério Público, que acompanhou nosso trabalho, incluindo os depoimentos do taxista e dos ocupantes do taxi que estavam no momento da abordagem”, destacou a autoridade policial.
Na investigação, Simas chegou aos quatro passageiros que estavam no táxi abordado pelo enteado do secretário da SSP de Sergipe e a outro motorista que teria sido abordado pela dupla. Todos já prestaram depoimento ao delegado, inclusive o passageiro que teria ido morar na Europa. “Essa é a primeira vez na história de Sergipe que a Polícia Civil pega um depoimento na Europa via internet”, comenta o delegado.
Simas revela ainda que não pediu a prisão preventiva dos acusados por eles não representarem ameaça à sociedade, serem réus primários e possuírem residência fixa. A autoridade policial, no entanto, afirmou que teria autuado em flagrante os dois acusados no dia do ocorrido. Na investigação, Simas chegou a conclusão que os dois não assaltaram nem tentaram assaltar o taxista, por isso não teriam sido indiciados por roubo.
Falsa Blitz
Ainda de acordo com o delegado, apenas o enteado do secretário participou da abordagem ao taxista. Ao prestarem depoimento, os passageiros do táxi teriam confirmado a participação apenas de Ítalo, mas negaram ter havido assalto. “O que aconteceu foi o seguinte: Ítalo saiu de casa sozinho conduzindo a Amarok do secretário, abordou o taxista que levava quatro passageiros. Depois foi beber em um bar na Orla da Atalaia e conheceu Eduardo, que se identificou como policial. Lá conversaram e decidiram abordar motoristas em uma falsa blitz na Passarela do Caranguejo. Antes, porém, abordaram um homem em um carro de passeio, pediram os documentos dele e do veículo e depois o liberaram”, explicou o delegado.
Os dois foram flagrados por policiais militares armados, fazendo abordagens se passando por policiais civis em um estacionamento da Passarela do Caranguejo. O enteado do secretário da SSP portava a pistola, enquanto Eduardo o fuzil. Tudo isso e mais outros detalhes constam no inquérito policial feito pelo delegado Valter Simas e encaminhado na última sexta-feira, 6, à Justiça. Se condenados, cada um poderá pegar oito anos de prisão – dois anos pelo crime de porte ilegal de arma de uso restrito da polícia e seis por usurpação de função pública. Para o delegado Simas, está mais do que provado que a dupla não teve intenção de roubar muito menos teria tentado assaltar o taxista.
“Agora, está nas mãos do Poder Judiciário. Fiz um trabalho minucioso, só o meu relatório tem 11 laudas, inclusive solicitei e consegui que o MP acompanhasse todo o processo investigativo e as oitivas. Mas se o MP quiser pode pedir novas diligências, pode até denunciar eles por tentativa de assalto”, reitera Simas, ao ressaltar que foi realizada uma acareação entre o taxista e os passageiros e dois pontos ficaram controversos.
“O primeiro ponto foi se Ítalo disse ou não passe o dinheiro na abordagem ao taxista. O outro ponto controverso foi o taxista afirma que teria dito polícia com o intuito de intimidar a ação criminosa”. Consta ainda no inquérito policial que o enteado do secretário João Eloy teria dito em depoimento à polícia que sempre quis ser policial e, no último dia 25 de maio, sob efeito do álcool, acabou se passando por policial e realizado as abordagens.