Fundado na década de 1950, como uma casa de chá, tornando-se reduto de pensadores e artistas nos anos 80, o Cacique Chá foi devolvido aos aracajuanos nesta quarta-feira, 02, pelo governador Jackson Barreto. O espaço, localizado na praça Olímpio Campos, passará a ser chamado de Casa de Cultura Jenner Augusto – Cacique Chá, e servirá como um Café-Escola sob administração do Serviço Nacional do Comércio (Senac).
A restauração do prédio incluiu os painéis do artista, numa ação do governo através da Secretaria de Turismo (Setur), com recursos da ordem de R$ 319.653,66, resultados de Convênio firmado com o Ministério do Turismo. Os painéis pintados nas paredes do Cacique Chá são um marco da pintura moderna brasileira e possuem grande valor histórico-cultural, retratando a bravura dos índios sergipanos.
Os painéis completaram 65 anos em 2014 e sua restauração integrou o projeto de recuperação do Cacique Chá. Foi realizada a restauração de nove painéis, que estavam se apagando com a ação do tempo, com base em fotografias antigas. Durante a solenidade, o governador destacou a importância histórica e cultural do prédio, que também já foi um dos restaurantes mais finos da sociedade sergipana, localizado em frente aos edifícios da Procuradoria Geral do Estado, da Câmara de Vereadores de Aracaju e ao lado da Galeria de Artes Álvaro Santos.
"Estamos aqui nos reencontrando com a história de Aracaju. O ponto de encontro cultural dos aracajuanos está de volta. Essa reforma era um dos sonhos de Marcelo Déda, que era um visionário. Ele sabia o que podia e o que deveria fazer pelo Cacique Chá. Aqui nós teremos cursos para garçons, será um café-escola, será mais um ponto turístico do estado. Nosso compromisso é valorizar a cultura do estado e é isso que estamos fazendo”, declarou Jackson Barreto.
O Secretário de Estado do Turismo, José Roberto de Lima Andrade, destacou a ação do governo como um resgate do patrimônio do povo sergipano, não só arquitetônico, mas principalmente cultural e histórico.
“O Cacique Chá é um prédio de mais de 60 anos, onde muito do que aconteceu em Aracaju passou por ele, desde um espaço da sociedade mais intelectualizada, até mais na frente como espaço da boemia, da política da cidade. E também pela importância que é o painel do Jenner que está aqui restaurado e aparece em toda a sua grandiosidade aqui no Cacique, então acho que esse é um espaço que vai servir para os turistas que o visitarão e mais ainda para a população de Aracaju, especialmente os mais novos, que vão poder de certa forma visitar o lugar que ouviram falar de seus pais e avós”, ressaltou o secretário.
Café-escola
Com a recuperação, o prédio do Cacique Chá abrigará um Café-Escola e o Espaço Cultural Jenner Augusto, que será administrado pelo Senac, no qual as obras do artista plástico e Janner Augusto terão um lugar de destaque. Durante a entrega, o governador também assinou o termo de autorização do espaço público pelo Senac, juntamente com o presidente do conselho Regional do Senac em Sergipe, Abel Gomes da Rocha.
O diretor regional do Senac, Paulo do Eirado, informou acreditar que será preciso pelo menos uns 120 dias aproximadamente até que o espaço entre em funcionamento. “A partir de agora o Senac está autorizado a ter a posse dessas instalações e nós temos o compromisso de colocar aqui um café-escola, então nós vamos fazer voltar a funcionar o Cacique Chá, aberto ao público, ofertando petiscos, café, chá etc, e procurando resgatar o máximo possível o clima da época, da tradição desse local, além de cumprir a obrigação de manter o acervo artístico de Jenner Augusto o mais acessível possível do público”, garantiu.
A reforma
Depois de ficar fechado por mais de uma década, a restauração do edifício do Cacique Chá foi minuciosa e teve como principais intervenções a adaptação da cozinha, transformada em mini-auditório, a instalação de câmeras de segurança e de uma nova cafeteria, a vedação de todo o espaço com vidro, além de iluminação noturna (item de segurança). Contemplou também toda a estrutura elétrica e hidrossanitária, bem como a revisão dos telhados e forro do prédio.
Do total investido, R$ 45.300,00 custearam a restauração dos painéis e o secretário de Estado da Infraestrutura, Valmor Barbosa, explicou que parte da tinta necessária a este serviço teve que vir de fora do país. “A estrutura estava bastante deteriorada, mas as obras civis estavam prontas já há algum tempo, mas a parte mais delicada, digamos assim mais sensível foi a restauração dos painéis e a demora foi porque, primeiro teve um problema porque a tinta específica teve que vir dos Estados Unidos, como também pedir o consentimento à família do artista para poder restaurar os painéis”, informou.
No passado
Frequentador dos tempos áureos do Cacique Chá, o ex-prefeito de Aracaju e secretário de Estado do Planejamento, João Augusto Gama, lembra que o Cacique era um ponto de encontro, a partir da década de 50, 60 e 70, da intelectualidade numa época em que a vida da cidade era muito reduzida ao seu centro. Para ele, a restauração demonstra que Sergipe preserva o seu passado, mas acredita que o propósito do espaço deve ser outro porque o passado não volta e a história não se repete.
“Nós não teremos nunca mais os momentos de encontro no Cacique. Agora ele poderá perfeitamente atender as suas novas funções de uma atração do turismo, um memorial da cidade, com a obra de Jenner no tempo e como ele dizia que pintava como Portinari, isso eu o ouvi dizer aqui e então esse papel eu sei que é possível. Fico feliz, um aproveitamento importantíssimo”, destacou.
Gama contou também que conheceu o Cacique na década de 60, tendo a sua frente o seu proprietário Antônio Freitas. Nesse período, o freqüentava nomes como o engenheiro Fernando Figueiredo Porto, o promotor Fernando Barreto Nunes, Viana de Assis, o deputado Jaime de Araújo Andrade e Clodoaldo Alencar o pai e Filho, pessoas de bastante representatividade na sociedade.
“Isso se manteve durante muitos anos até o seu esvaziamento quando os shoppings, de certa forma, deslocaram o comércio para outro pólo. Naquela época, o comércio elegante de Aracaju era na João Pessoa, com a suas lojas que tinham aos domingos uma retreta, onde havia uma disputa de qual vitrine mais bonita onde as pessoas vinham para o desfile, como se dizia na época, o ‘quem me quer’. Havia duas livrarias, Regina e Monteiro, que era uma espécie de Cacique Chá sem venda de bebidas, que eram outro ponto de encontro. Quando se dava por volta das 17h30, essas pessoas vinham aqui para o Cacique. Era um estilo de vida completamente diferente”, rememora.
Jackson entrega Cacique Chá e cria Espaço Cultural Jenner Augusto
03/07/2014 -
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