Uso de trator público por Almeida vira caso policial
Gabriel Damásio
07/08/2014 -
Policiais civis da Delegacia de Nossa Senhora das Dores (Agreste) apreenderam ontem à tarde um trator pertencente à prefeitura local que estava sendo usado em uma obra particular na fazenda de propriedade do deputado federal e ex-senador José Almeida Lima (PMDB), no povoado Taboca, zona rural de Dores. Os policiais foram ao local após serem acionados pelo promotor da comarca do município, Waltemberg Lima de Sá, que por sua vez recebeu uma denúncia do vereador Raimundo Jorge Santos, o "Jorge de Zé de Bola" (PT).
 
O trator do tipo patrol, usado no nivelamento de terrenos, foi encontrado pelos policiais dentro de um tanque para criação de peixes que estava sendo aberto na fazenda do político. Dois delegados da Polícia Civil estiveram na propriedade, acompanhando o vereador e os policiais, e, após constatarem a irregularidade, prenderam em flagrante o tratorista que operava a máquina, cujo nome não foi revelado. Ele foi autuado por crime de peculato (desvio ou apropriação indevida de dinheiro, bem ou objeto de propriedade pública), e deve ser solto após a Justiça determinar o valor de uma fiança a ser paga.
 
Segundo o delegado Rodrigo Espinheira, o servidor admitiu que estava ali por determinação direta de Almeida Lima e com consentimento da Secretaria Municipal de Obras, apesar de o serviço ser particular. "Perguntei ao motorista de quem era o veículo e ele respondeu que se tratava de uma máquina pública e que estava no local a mando do político", disse ele, em entrevista à rádio Liberdade FM. Também foi indicado no depoimento e nas denúncias que outras máquinas da Prefeitura de Dores, incluindo uma retroescavadeira, já vinham sendo usadas na fazenda do deputado há vários dias.
 
Almeida estava na fazenda quando tudo aconteceu e, segundo informações da polícia, só não foi detido em flagrante porque, por ter imunidade parlamentar, não pode ser preso por crimes afiançáveis e só pode processado após autorização do Supremo Tribunal Federal (STF). Almeida foi então convidado a ir prestar esclarecimentos na Delegacia de Dores, mas se recusou, também alegando imunidade parlamentar. Em justificativa, ele afirmou que as máquinas lhe foram emprestadas pela Prefeitura e que o objetivo era abrir uma estrada que passava dentro de sua fazenda.
 
O delegado Espinheira demonstrou descrença sobre esta versão e reforçou que "o veículo foi encontrado dentro do tanque". O prefeito de Dores, Fernando Lima (PDT), e o secretário municipal de Obras, Sérgio Henrique Oliveira, serão intimados para prestar depoimento na delegacia, além do próprio deputado Almeida Lima, através de documento formal. Segundo apuração da imprensa, isso poderá acontecer hoje ou no início da semana que vem. O objetivo da polícia é apurar o grau de participação do prefeito e do secretário na cessão das máquinas ao ex-senador. Os três também poderão ser processados por peculato, além do tratorista.
 
O inquérito policial tem um prazo de 10 dias para ser concluído e remetido ao STF, em Brasília, que por sua vez decidirá se abre ou não o processo contra Almeida Lima. No início da noite, em entrevista publicada pelo site Faxaju, o deputado federal informou que, nos últimos dois meses, vem fazendo obras de reforma e melhorias em sua fazenda, que está sendo preparada para atividades de agronegócio. Almeida disse também que tem várias máquinas trabalhando na propriedade e que, de vez em quando, empresta tais máquinas à Prefeitura de Dores para a execução de obras no município.