Jovem advogada sergipana, Priscila Mendes, acredita que a busca incessante pelo conhecimento é a chave para crescer na profissão
Priscila traz o olhar de uma jovem advogada sobre os desafios da advocacia  (Foto: Arquivo Pessoal)
Priscila traz o olhar de uma jovem advogada sobre os desafios da advocacia (Foto: Arquivo Pessoal)
17/04/2023 - 11:28:37

Com um ano e quatro meses de advocacia, a jovem advogada Priscila Mendes saiu do município de Umbaúba para viver em Aracaju e, assim, ter a chance de dedicar-se inteiramente ao Direito. Hoje, ela já colhe os frutos desta determinação e carrega na bagagem a experiência de atuar no Caso Genivaldo, que ganhou repercussão nacional e acendeu o debate sobre as práticas adotadas durante uma abordagem policial. Em entrevista ao Site Sergipe em Foco, Priscila Mendes fala sobre os primeiros passos na profissão, a busca incessante por conhecimento e os desafios da advocacia, especialmente para as mulheres que militam na área criminal.

Sergipe em Foco: Há quanto tempo você atua na advocacia? Escolheu dedicar-se a qual área do Direito? Fale um pouco sobre esses primeiros passos na profissão.

Priscila Mendes: Há 1 ano e 4 meses. Escolhi a área criminal. A princípio estava perdida, pois nem a faculdade e nem a preparação para OAB deram suporte para advocacia na prática. Tive que buscar vídeos, cursos e, ainda assim, foi difícil, pois as aulas iniciais falavam muito da teoria e não como é de fato a área criminal. Chegou a ser desesperador em determinado momento, porque eu só queria um norte. Foi quando resolvi ir aos fóruns, delegacias e Tribunal para ficar observando como tudo acontecia.

SF: Ainda sobre esse início na vida profissional, como foi a saída do interior para a capital? Que fatores motivaram essa mudança e qual o impacto dela na sua carreira?

PM: Vim do interior para Aracaju, paralelo ao final do curso de pedagogia e o início do curso de direito. Estudar na capital e morar no interior, como a maioria dos estudantes universitários, não era fácil, até que consegui um trabalho aqui em Aracaju para poder me manter e estudar, e isso foi bastante relevante para mim, pois abriu novas portas. Por exemplo, tive a oportunidade de estudar um pouco mais, aproveitando as horas que antes eu gastava no percurso de ida e volta de Umbaúba para Aracaju. Com isso, pude passar em um processo seletivo do Tribunal de Justiça. E partir daí, iniciei a minha plantação no terreno do Direito, onde tive a oportunidade de participar de alguns estágios voluntários, com intuito de aprender mais sobre a advocacia na realidade.

SF: Com base na sua vivência, qual a situação da advocacia no interior do Estado?Quais as condições de trabalho dos advogados e advogadas que não estão na capital? Há estrutura para que eles possam desenvolver plenamente sua atividade?

PM: A situação da advocacia no interior tem melhorado bastante. A nova gestão da OAB tem oferecido todo suporte para as subseções e para as cidades do interior vinculadas a essas subseções. Por exemplo, a maioria dos fóruns do interior tem sala da OAB e tem alguém representando a Ordem para auxiliar,caso um profissional tenha as prerrogativas violadas. No mercado de trabalho, a vantagem da advocacia no interior é que as pessoas acabam acompanhando a sua história de vida, isso tem muito também do marketing. De você está sempre atualizando nas redes sociais a sua rotina, porque leva as pessoas a perceberem o seu trabalho. E no interior, muitos clientes chegam através do boca-a-boca, ou seja, por indicação a partir de um processo que foi frutífero. 

Em relação a estrutura, a OAB tem dado toda atenção às subseções de Estância, Itabaiana, Propriá e Lagarto. Inclusive a OAB tem projetos de coworking (modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espaço e recursos) para advogados que não tem escritório ainda poderem realizar seus atendimentos. E os cursos que a ESA (Escola Superior de Advocacia) oferece em Aracaju também são realizados no interior. 

SF: Enquanto representante da jovem advocacia, como você avalia o cenário atual da profissão? Quais são os principais desafios que os novos advogados e advogadas enfrentam ao ingressar no mercado de trabalho?

PM: É um campo de batalha. E o principal desafio é encontrar suporte, porque, infelizmente, muitos dos nossos colegas nos veem como rivais e não companheiros. Então, a jovem advocacia tem trazido mais esse olhar do corporativismo entre a classe. Consigo identificar isso na pessoa do presidente da OAB em Sergipe, Danniel Costa, por ser um jovem advogado e entender as necessidades de quem está ingressando na profissão.

Muitas vezes somos subjugados e temos as nossas prerrogativas violadas. Enfrentei uma situação dessas há pouco tempo, em uma delegacia, quando uma escrivã não quis juntar o meu pedido ao auto de prisão em flagrante. Ela foi bem relutante, mas a partir do momento em que eu me posicionei, e se posicionar não é ser arrogante, ela mudou de postura. Isso se dá com a autoridade e o domínio sobre sua atuação que você conquista através da busca incessante pelo conhecimento. Você começa a ter a garantia do que você está requerendo.

A OAB Sergipe na gestão atual, me refiro a gestão atual porque não acompanhei as anteriores por ser jovem advogada, tem se empenhado muito para garantir que os direitos dos jovens advogados também sejam respeitados tanto quanto a advocacia sênior. O número da nossa OAB, o tempo que alguém advoga, não deve fazer diferença no tratamento dispensado a esse profissional. Eu, jovem advogada, mereço o mesmo respeito que o colega que atua há mais de 20 anos.

SF: O Caso Genivaldo ganhou repercussão nacional e acendeu um alerta sobre a conduta adotada pelos policiais durante as abordagens. Sendo jovem advogada, como foi acompanhar um processo tão polêmico? Conte a experiência no caso.

PM: Foi um desafio, mas foi um desafio que aceitei na certeza da minha capacidade e da experiência que poderia adquirir ao longo dos dias. Quando fui convidada para entrar no caso, eu tinha seis meses como advogada. E foi um caso emblemático que assumi e busquei intensificar o meu conhecimento para me debruçar sobre o caso e dar o meu melhor. Comecei a buscar cursos fora e isso demanda um investimento, porque os anos iniciais da advocacia são totalmente de investimentos. Eu vivo somente da advocacia e posso dizer que os frutos estão começando a chegar agora, de um ano e meio de plantação, e mesmo assim o básico, para se manter. Acredito que de dois a cinco anos é o período com que o advogado ou advogada possa se estruturar profissionalmente.

No Caso de Genivaldo, eu entendi que precisava me aperfeiçoar, porque a situação exigia isso. O que acho mais brilhante nisso é conseguir se aperfeiçoar e agir de uma forma técnica e respeitosa, de você conseguir adquirir direito e autoridade sem precisar puxar tapete ou humilhar ninguém. A prosperidade na advocacia depende muito da humildade do profissional.

SF: Hoje você se sente realizada na profissão? Qual o seu conselho para quem deseja abraçar a advocacia?

PM: A advocacia é um sacerdócio, uma missão. Uma vontade de ajudar, de ser a pessoa que vai buscar a Justiça em meio a um mundo injusto. É você buscar os direitos de quem está oprimido, encarcerado, daquele, que por ventura, cometeu um crime, mas que precisa ter seu direito garantido.

Nós, criminalistas, não defendemos criminosos, defendemos os direitos daqueles que, em algum momento da sua vida, cometeram algo contra a legislação. Não é que essa pessoa não deva assumir a responsabilidade, mas que ela assuma de uma forma justa. Porque o sistema carcerário é hostil e a Constituição não prega isso. Então, o nosso papel é tentar garantir o que a Carta Magna também prevaleça para essas pessoas. Sou realizada na advocacia criminal, tenho até habilidade na advocacia cível, da família e consumidor, mas me debruço na criminal.

O conselho que dou é a busca diária pelo conhecimento. É você ter consciência e os pés no chão de que ninguém é tão sábio que não tenha algo a aprender, ou saiba de menos e não tenha algo para nos ensinar.Se você ingressar na advocacia com esse pensamento e com o intuito de tratar o Direito de forma humanizada, não tem erro. O caminho não é fácil, mas vale a pena!

 

Da redação do 
Sergipe em Foco